terça-feira, 2 de março de 2010

*Cordeiro dos Pesares*


Não esconderei as marcas do açoite,
Com orgulho as cicatrizes no meu rosto.
As pernas tremulam o compasso rítmico.
É tempo de liberdade, meu senhor.

As noites vadias de bebedeira não existem,
Meninas estupradas, essas eu esqueci, ai sinhá!
Senhoras bem portadas com arreios de ouro...
É tempo de liberdade, meu amor.

No velho curral ainda há sangue no chão,
Minha senzala de portas abertas, ai sinhá!
No palácio deixei meu amor chorando...
É tempo de liberdade, meu desespero

A pálida pele, hoje, desenha minha história,
Lábios vermelhos tão expressivos, lindos.
Já me fui faz tempo, mas a dor ficou, reinou
E é tempo de me libertar, meu senhor.


By Camila Passatuto





Bloqueando a seleção de texto em um site

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

*Poema e afim*



Deixe-me ser desavisada, sem compasso, sem queixa.
Quando me disponho, eu te refaço, poetizo sem ritmo.
Deixe o meu rock clássico casar com seu Nice Dream
E vamos assimétricas caçar mais um trago, meu amor.
Quando te encaixo, já não é mais um tipo de acaso, rimas.
Um rebalançar de melodia, então, poesia obscura te invade.
E vamos assimétricas recolocando tudo no lugar, te salvo.
Deixe o meu entusiasmo abafar sua depressão de domingo.
Quando nada for, vamos nadar entre pedras, brincar e sorrir.
Diga o que você vai precisar para preparar o jantar, eu ajudo.
E vamos desaconselhadas, colando os beijos, montando brigas.
Deixe-me ser desavisada, mas vou saber dos avisos, meu amor.
By Camila Passatuto

domingo, 9 de agosto de 2009

*Dias Atuais*


Tudo se embolia e emaranha de nós,
Os fios estão cada vez mais grossos,
O machucar de pudor, política, mentira.
Desiste um desespero em mim, desiste...

Caras escovadas e em ti me dissolvo,
O armário bagunçado ainda bloqueia,
Lá fora há nuvens gripadas, sarnas, hei!
Faça-me estranho, desfeito, encanecido...

Medo, descrença, eu esqueço, me beije.
Palácios de açúcar ainda estão em pé
Líderes molestadores em pé de mira.
E a evolução bagunçada ainda bloqueia...

Não vejo, não mais saio, não mais sou.
Precisamos de mais curativos, sim, dói.
Os sonhos ainda machucam, doem, sim.
Desiste um desespero. Fora Sarney!

By Camila Passatuto



Bloqueando a seleção de texto em um site


sábado, 18 de abril de 2009

*Aos*


Família de camaleão, corpo desliza, dança, reclama.
O aluno fala, não pode falar. Não pode pensar, não!
Século do 21, tenho apenas 20, mas penso , amor.
Mãe, chame a dona liberdade para quebrar as correntes.

Correntes de tecnologias, redes sociais, mestres podres.
Ensino de apostilas, ensino de maus dizeres, mestre podre.
Os olhos de inocentes brilham no cristal, a alma reclama.
Quebre uma regra e caminhe ao meu lado, sempre ao lado.

Mãe, não sei trabalhar, não tenho forças, não sei mentir...
Nasci para anotar o que é fugaz, nasci para não cumprir...
O aluno foge e queima, o batalhão em motim, eu recebo.
Sem melhores grifes, eu escolho os artistas pobres e inseguros...

Eu escolho os melhores...


By Camila Passatuto

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Limpe o Lavabo


O guarda-chuva e sua inutilidade me acompanham.
Os pés molhados e um pensamento inquieto, ando.
A cidade é de agora é de garoa é de garotas tristes.
Nenhum gesto me condena, a pele rasgada, sim...

O romantismo soterrado, pós-modernismo se quer,
O mal do século é das meninas, sumir-se, comer-se.
Nenhum gesto poetiza os carros, perco sangue, sumo.
Resumo as políticas, socializo a dor, comunismo ardor.

O mal do século cospe o que sobrou, a chuva se molha.
Passos descalços, o barulho de buzinas, o silêncio...
Pratear minhas mãos, existe injustiça nos verbos, amar.
E a cidade é de agora, é de garoa que as garotas insistem.


By Camila Passatuto

domingo, 4 de janeiro de 2009

*Adeus*


O instante quebrou meus ossos, mãe, dói tanto.
Poetizar agora é tão difícil, está tão varonil isso.
Os dedos atrofiados pela incumbência, e agora?
Acabaram os sonhos e o sangue escorre aqui.

O corpo todo exibe feridas e meu mau cheiro,
A garota sente medo, acabaram os sonhos, aqui.
Em palavras, em insulinas...Dorme a emoção...
O poeta chora, pois agora é tão difícil se drogar.

Mãe, peço para que tranque a porta e os expulse.
O momento é cicatriz, o momento é solidão, mãe.
Deixe as palavras da revolução comigo, eu morro.
O meu sangue é mais vermelho, minha fé azul, azul.

Aos meus filhos: a minha face quebrada, desculpe.
Aos leitores: uma estranha emoção descontente;
Ao meu amor: os livros perdidos da alma de Poe;
À minha vida: as palavras ainda não ditas, amém.


By Camila Passatuto

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

*Maio*



Existem marcas por todas as laudas,
O equívoco de dor te puxou de novo.
Nossos governantes não ligam, amor;
E todas as laudas têm sangue, meu sangue.

A métrica novamente me condena, tolice.
Uma fome de exagero corre pelas ruas,
Nossos governantes não ligam, amor.
Ontem mesmo morreu um amigo...

Em mim o sangue foge, corre, some.
Meu olhar esgueira o teu, é o fim, amor.
Mas as palavras de demagogos viverão;
Equivocada você se joga em leis orientais.

O sangue ainda escorre pelas pernas,
Minhas mãos tentam segurá-lo,
Os policiais te levam
Eu fico aqui...e isso já faz 40 anos.


By Camila Passatuto


(Obs¹: leiam sobre maio de 1968, também sobre protestos na França e EUA e os movimentos estudantis. Porque a história ainda vive.Obs²: a palavra Demagogo, usada no texto, está no seu significado primitivo de origem grega.)

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

*Escrita 200*


Pelas ruas de Havana deixo um rastro de sangue
A saudade que aquela menina plantou em mim...
Os homens procuram abrigo em livros sagrados.
Os homens esqueceram das meninas de Havana.

A saudade que aquela menina plantou em mim...
Deus aponta para o céu e te mostra a salvação,
Eu miro uma arma arcaica, meu inimigo cai, a morte.
Pelas praças o grito de recolher, o gozo de uma saudade.

Ela anda sozinha pelo cinza de Havana, linda e estranha.
A rua deserta...um grito, um giro, um livro sob seus pés,
Os homens procuram abrigo em livros sagrados, homens.
A menina me procura entre suas pernas, entre, suas mãos.

Pelas lembranças de soldados, uma revolução vermelha;
Eu tinha uma saudade, uma arma, uma mira, uma virgem.
A saudade que a guerra gerou, um amor em Havana, um livro.

A menina hoje dorme, sente dor. Minha alma a ama sem qualquer pudor.



By Camila Passatuto

terça-feira, 22 de julho de 2008

*Poema sem rimas*


Minha ausência é cristalina, sem perdão.
As mãos cansadas de escrever, sem carinho.
Meu olhar descreve o meu ser, sem fugacidade.
As bocas querem, as palavras também, ainda.

Verso que não faz sentido me deixa solta.
Sem motivos para cantarolar meus pêsames,
Mato então meu pardal, doce pardal, sem perdão.
Sem carinho, as bocas querem, sem fugacidade.

Um motivo sólido que se perde, as mãos cansadas;
Minha vontade de escrever se perde na vontade...
Cristalina minha ausência, então serei rei risonho.
Repedindo palavras, largado, aqui sou mais um...

E longe das palavras
Da métrica desnuda
Das mentiras de poeta
Vivemos sem viver...Na paz!


By Camila Passatuto

domingo, 29 de junho de 2008

*O que se fala, o que se passa...(coração de poeta)*


Sei o segredo para conquistar grande platéia,
Tenho que ser ridículo e falar coisas tão simples,
Porém o que há em minha alma: dizeres estranhos,
Frases confusas, pensamentos encarnados, o mal...

Sei o segredo para ser estupidamente feliz,
Tenho que adorar o conformismo e minha família,
Mas quero novas línguas e o deserdar de meu pai.
Desejo uma cínica mudança, sua cínica malicia.

E acabo sempre assim, fazendo o que se pode.
O que se pode ser entendido...
Lido...
Relido...

Quero uma coragem que me transcenda
Quero ser o que apenas sei ser:
Distante, nevoado, calmo, dramático...

Deus, quero esquecer céticos segredos...


Bay Camila Passatuto

sábado, 7 de junho de 2008

*Às Musas...*


Arremesse-me ao chão e diga palavras duras,
Essa é a minha melhor musa, desvia o olhar.
São escadas rolantes e eu tropecei em você,
Várias dessas passaram por mim, então escrevi.

Às que se aproximam e às que se afastam, escrevo.
Um corte mais leve uma palavra mais amarga assim.
Se passou o trem e você não embarcou, eu faço um poema.
E em mim uma angústia permanece, mas escrevo...

Manche o lençol com minhas feridas e será nova musa,
Permaneça quieta diante de meu desespero, será musa.
Os arames no canto da sala e desconheço o que sou.
Um conselho, dois conselhos e escrevo porque assim sou.

Arremesse-me ao chão e diga palavras duras,
Essa é a minha melhor musa, desvia o olhar.
Não sei me calar e o melhor é fazer assim:
Eu vou me inspirar em você...


By Camila Passatuto

sexta-feira, 23 de maio de 2008

LSD



Gotas de tinta caem sobre mim,
A poltrona frenética me assusta.
Depois da janela, compasso inusitado,
Movimento solitário verde rosa azul.

Gotas de tinta molham a cama,
O gozo toma conta do papel.
Mistura açúcar e tudo acaba
A tv ligou e desligou, estranho.

Ofício das letras aglomeradas...
Mulheres em minha cama, lilás.
Cruz de malta em meus seios,
Seita da luz e da noite.

Movimento solitário inusitado,
Lágrimas sociais antropológicas.
Lispector, Shakespeare, Drummond

A poltrona e um livro dançante...

By Camila Passatuto